Atualmente sinto saudades. Sinto saudades do que vivi há muito tempo e do que aconteceu ontem. Sinto saudades do meu pediatra e do meu cardiologista. Sinto saudades de um ursinho de plástico que tinha aos 3 anos e que pintei com a minha coleção de esmaltes. Sinto saudades do livro que terminei de ler na semana passada.
Por anos não senti saudade. A vida era uma seqüência de fatos com intervalos tão curtos que a saudade não tinha tempo para se manifestar.
A saudade, que sinto atualmente, tem personificação. Mora no museu das minhas memórias. Nos tempos apressados de outrora, ela era um quadro guardado no estoque, por não estar de acordo com o tema exposto. Hoje, a saudade, é uma senhora de abdômen globoso.
Neste ponto preciso fazer uma retificação, ou uma nova orientação, para o desenvolvimento deste texto, que me atrevo chamar de relato. A saudade tem de passar do nome apenas de um sentimento para o nome de um personagem. O verbete precisa trocar o ‘s’, este deixará de ser tratado em minúsculo e passa para maiúsculo. Saudade é nome.
Saudade é a senhora que reside no museu das minhas memórias. Saudade, uma senhora redonda, passeia pelo museu. Por estes dias esta sentada no saguão, a informar a todas de sua existência.
Por vezes, a noite, ela faz a ronda dos salões. Pensa que está no Louvre e procura obras raras, pensamentos guardados. Apega-se a tudo que é importante, como tive amores. Busca peças no estoque e as expõem nos salões. Tenho encontrado tantas fotos, cartas e lembranças. Com todo esse exercício a Saudade se cansa, então senta. É quando sinto um aperto no peito e muita dificuldade de respirar. Ainda bem que ela sempre levanta.
O que faço quando ela não mais levantar?
Autor:
Simone da Silva Figueiredo
(escrito em 01/09/2011)
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