domingo, 4 de setembro de 2011

Pós Doctor

Daniela recebe uma carta. A universidade que ela almeja a convida para fazer o 'Pós Doctor'. Tudo estaria do jeito que ela sonhara, instituição, bolsa, amigos, país. No entanto, há seis meses sua mãe ia e vinha do hospital. Uma internação após a outra. CTI, massageador cardíaco, prolongação da vida se tornaram expressões cotidianas. Como unir o sonho e o pesadelo? Como o sonho ocorre neste momento?

Na casa silenciosa, um ritmo diferenciado no monitor cardíaco informa à Daniela, algo foge do normal. Sobe as escadas às pressas, mas tenta se acalmar na porta do quarto da mãe. Entrou. Sua mãe, em meios aos tubos, a observa. Chama e convoca à aproximação com um olhar. Daniela se aproxima e a questiona sobre como estaria se sentindo. A mãe pega na mão dela e se despede, pedindo antes: "Seja feliz e faça tudo que tiver de fazer para isso".

Daniela escreveu para a instituição explicando a situação, cuidou do enterro e dos próprios documentos. E apesar da dor, três dias após o sepultamento, Daniela fechou o apartamento e zarpou rumo ao conhecimento. Viajou de preto.

No novo país foi bem recebida pelos velhos amigos e novos. Todos cientes de sua perda se concentravam em tornar tudo mais fácil para ela. O tempo passou. Os estudos apertaram. Daniela passava cada vez mais tempo estudando, tempo com os livros.

Certa noite, sente necessidade de um livro às 20:30 horas. Corre à biblioteca, com a certeza da inutilidade do ato. A biblioteca fechava às 20 horas. Para sua surpresa a porta da biblioteca estava aberta.

Daniela entra e encontra uma jovem bibliotecária. Sente por ela uma afeição inexplicável. A bibliotecária muito competente a ajuda. Dias se passam e Daniela passa a habitualmente utilizar a biblioteca no horário noturno, com a desculpa de ser mais tranquilo. A verdade é que se afeiçoara à bibliotecária.

Tudo correu bem. Daniela terminou o 'Pós Doctor' e voltou ao Brasil. Reabriu o apartamento, e com a calma que os quatro anos ausentes propiciou, arrumou os pertences da sua mãe. Viu as roupas, objetos de arte, jóias e achou uma caixa de fotos. Pensou, vou ver como minha mãe era quando jovem. Só lembro do rosto da minha mãe a partir dos meus sete anos, ela com cinquenta.

A maioria das fotos eram de sua mãe com ela. Já estava perdendo as esperanças quando achou um envelope escrito: "Formatura em Biblioteconomia - Turma de 1956". Um sorriso invadiu seu semblante. Abriu o envelope e viu a foto. Agora, com o espanto estampado na face, vê a bela jovem bibliotecária do seu 'Pós Doctor' ao lado de seu avô. Lê o nome de sua mãe no verso. Entendeu que nunca se separaram.

Autor:
Simone da Silva Figueiredo
(escrito em 05/09/2011)

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