domingo, 4 de setembro de 2011

O passeio

Laura chegou na cidade à noite. Caminhava por vielas mal iluminadas e mal cheirosas. Chegou no lado podre da cidade. As ruas, nesta parte, eram habitadas por ratos gigantescos. Andavam num transitar frenético uma equipe do prazer mundano. Por lá se encontravam, com todos os sentidos que este verbo pode conter, prostitutas e cafetões, ladrões e assassinos, traficantes e viciados.

Laura avista uma luz ao mesmo tempo em que a musica desconexa invade seus ouvidos. Laura entra no inferninho. Moças em trajes sumários dançam. Garçons servem drinks coloridos e esquisitos. Fumaça de todo o tipo de cigarro perfuma o ambiente. Neste momento, Laura vê Marcelo.

Marcelo é um rapaz elegante, alto e com os piores 27 anos já relatados. Marcelo está com uma moça em seu colo enquanto outra dança para seu deleite. Uma terceira moça lhe traz uma bandeja. Nela e possível ver as carreiras de pó branquíssimo. Marcelo as inala. Rapidamente entra num estágio de euforia exagerada. As órbitas oculares aumentam de tamanho e ele transpira exageradamente. Em poucos minutos começa a sair pelos cantos de sua boca uma baba branca e viscosa. A língua despenca como se fosse uma gravata.

Laura pacientemente assiste a tudo. Marcelo se levanta não compreendendo a ausência repentina da excitação e da música. O odor do cigarro não mais existe. Tudo ao redor de Marcelo se torna um borrão. Marcelo enxerga Laura. Vê a moça alta, elegante, loira e de pele alva. A moça linda o enxerga. Ele a percebe com clareza, diferente de todo o resto. Marcelo caminha em direção a Laura.

Marcelo interpela Laura como se ela tivesse todas as respostas para as dúvidas que brotaram em sua mente. Laura calmamente levanta-se e caminha para fora. Marcelo a segue.

Do lado de fora, em meio à noite e ao lugar fétido. Marcelo agarra o pulso de Laura. Ela se volta e olha dentro dos olhos, colocando dentro da mente dele um filme dos seus 27 anos dedicados à devassidão. Laura o beija e suga o resto das suas dúvidas acerca da vida, plantando em seu coração a certeza da morte.

Marcelo chora. Laura o abraça e o eleva. Caminham juntos rumo a escuridão formada por aqueles que não tem luz.

Autor:
Simone da Silva Figueiredo
(escrito em 31/08/2011)

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