“E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas.”
Apocalipse 21:4
Ano 2500 de Nosso Senhor. Os céus
se tornaram de um vermelho incandescente após o último desastre nuclear. Os
seres humanos se escondem em abrigos nucleares abaixo da superfície. Comida,
água e até o ar estão racionados. A reprodução humana está sendo controlada com
mãos de ferro, não se permite mais os relacionamentos sexuais, todas as
crianças são produzidas. As fábricas de gente produzem o ser humano segundo a
necessidade da indústria. O Just in Time alcançou também esse patamar.
A Internet é o único espaço ainda
livre de transição de ideias. E, nela, os profetas do apocalipse se multiplicam
tanto quanto as ratazanas nos abrigos underground das cidadelas. Declamam o fim
dos tempos. Pregam a vinda do profeta, o toque das trombetas e,
apoteoticamente, o fim dos tempos.
Hoje, no terceiro dia do quarto mês
do ano, o meu mundo acordou energeticamente diferente. Tudo está eletricamente
calmo. O silêncio grita por problemas. E a pele se arrepia indicando um sentido
nisso tudo que o meu cérebro não consegue formalizar.
O mundo parou.
Nenhum som. Nenhuma pessoa. Nenhuma
indicação de existência de vida.
Pressinto, esqueceram de mim neste
intervalo de tempo entre o hoje caótico e o amanhã desconhecido. Mas, se o
mundo parou o tempo deixou de existir. O tempo invenção da serpente quando deu
a maçã à Eva e a convenceu à enganar Adão. O tempo promulgado por Deus quando
disse ao homem que seguisse o seu caminho e obtivesse seu sustento entendendo a
natureza e o seu ritmo.
Se o mundo parou. Não. O mundo
parou! Logo, o apocalipse chegou. O que irá acontecer comigo? Aonde está o
tribunal celeste com sua horda de anjos a me julgarem? Cadê o livro aonde está
escrito tudo aquilo que de bom e ruim eu fiz? Aonde estão as pessoas que
enganei e me enganarão? Cadê aquele padre que me disse que se eu não fosse
bonzinho eu não iria para o céu e, por outro lado, que eu padeceria no inferno
até o fim dos tempos?
Deus!
O tempo parou e você não chegou!
Céus! Que barulho é esse? Senhor
não sabia que eras tão audível assim e tão fácil de marcar uma audiência. Se eu
assim o soubesse já o teria feito.
Filho!
Mãe!
Calma. Apenas saí e fui à padaria
comprar um pão. Porque você está tão assustado? Viu outro filme de ficção
ontem? Acalma-te. O céu continua azul, o ar ainda é respirável e ainda moramos
no 15º andar e não no subterrâneo.
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