Quando
eu tinha por volta dos meus 20 anos eu me enamorei. ... Eu me enamorei por duas mulheres.
Deixa
eu me apresentar primeiro, meu nome é... . Na realidade, meu nome não importa, então
deixemos isso para lá. O que importa é quem eu fui e as pessoas que conheci.
Nasci
numa família judia. Filho de pai e mãe judia, família influente no bairro de
residência, seguia o protocolo. Ia ao templo, jejuava, fazia meus estudos da
Cabala e lia diariamente, religiosamente, a Torá.
Minha
vida era boa, sendo eu filho único de uma família abastada, nada nunca me
faltava. Vivia como era o esperado e mamãe estudava com qual menina judia,
frequentadora assídua da sinagoga, ela iria arquitetar meu casamento. Meu pai
escrevia o meu futuro, eu iria substituí-lo a frente dos negócios. Seria no
futuro o Senhor Meu Pai num novo corpo.
Certo
dia, eu conheci Valéria no retorno do colégio, meus olhos brilharam. Ela era
tão linda, meiga, gentil, educada. Valéria era tudo que eu queria e precisava.
Valéria só tinha um defeito, não era judia. Mesmo assim apresentei-a ao meu
pai. Acreditei haver compreensão no core paterno pelo meu desejo de quebrar uma
regra tão importante. O judeu é filho de judia. Enfrentei a minha família e
pedi, ao pai de Valéria, ela em namoro.
O
tempo ao lado de Valéria era doce. Menina de coração puro e bom tinha sonhos de
ajudar o mundo. Encantava-me a atenção que ela dispensava a todos que
necessitavam. Não tinha criança enjeitada que dela não tinha um abraço. Não
tinha idoso sem família que nela não encontrava uma neta. Nem os animais ela os
largava a própria sorte. Valéria vê as qualidades nas pessoas ao lhes observar
o coração. Via em mim o homem que eu desejava ser: respeitável, amável, pai de
família e, acima de tudo, bom.
Logo
depois conheci Margareth. Mulher mais experiente e com um filho. Deixei-me
enlaçar por uma teia recheada de desejos carnais não antes experimentados por
mim.
Fiquei
balançado entre a doce Valéria e a caliente Margareth. A luxúria e não a razão me
fez escolher a última. Claro que meu pai não apoiou a decisão. De todos os
possíveis erros que cometeria na comédia de minha vida esse era sem a menor
dúvida o mais gritante, segundo o olhar paterno naquele momento e o meu
atualmente.
Uni-me
a Margareth, criei seu filho, vivi longe de minha família, adoeci e fui
abandonado. Tudo em pouco tempo. Fui deixado em um asilo, um manicômio.
Valéria,
àquela quem abandonei, me procurou. Soube por alguém que estava doente. Valéria
tomou ciência de minha condição física, psicológica e emocional. Valéria me
resgatou do inferno das doenças.
Valéria
limpou as minhas feridas, me alimentou, me medicou. Me apaixonei novamente por
Valéria. Mas, ela somente tinha olhos para o noivo. Cheguei tarde. Como os
jovens de hoje expressam, a fila andou.
Valéria
não me abandonou, encontrou a clínica aonde me encontrava internado. Procurou
os médicos, rogou por atenção e providências. Conseguiu que uma parenta
assumisse a minha condição e os cuidados para comigo.
Hoje,
42 anos depois, estou em condições plenas de funcionamento integral do meu ser.
Tenho consciência de tudo que vivi em todas as minhas vidas. Percebo o caminho
que deixei de trilhar e o destino de felicidade para qual ele me levaria. Se em
vida entendi que perdi a melhor mulher que Deus poderia ter reservado para mim.
Na minha morte percebo que me afastei de Deus, me afastando do anjo da guarda
que ele me destinou.
Escrevo,
agora, do meu novo endereço, uma lápide em um cemitério.
Autor:
Simone da Silva Figueiredo
(Escrito
em 24 de dezembro de 2011)
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