sábado, 1 de outubro de 2011

Uma princesa as avessas.

Era uma vez uma linda menina que nasceu num belo castelo nos Alpes Suíços.

Espera a história não é essa.

Era uma vez uma menina que nasceu no calor tropical de dezembro. Filha única e neta única, ela era a coisa mais importante naquela família. Todos se meteram na sua criação.

A bebezinha foi crescendo e mostrando ser extremamente inteligente. Andou cedo, falou cedo e leu, obviamente, cedo. Os seus feitos eram contados aos vizinhos e amigos.

A menina foi para a escola. Como era de se esperar, as notas mais altas eram dela. Em casa era educada, gentil e responsável. Repassava as lições todos os dias. Ninguém a manda estudar. O fazia por conta própria. Um prodígio de menina.

A menina que crescia ganhava elogios à sua inteligência todos os dias. Na escola, os colegas com dificuldades recorriam à ela. Ela auxiliava a todos. Suas notas permaneciam elevadas. Ganhou bolsa de estudos. Seu pai contava à todos, falava sobre a inteligência e a esperteza da menina.

A menina foi crescendo e outras referências passaram a ter importância. Não queria ser apenas inteligente. Queria ser bonita.

Perguntou à mãe:
_ Sou bonita?
_ Não. Você é inteligente.

Com isso, um decreto caiu sobre sua cabeça. Ela pensou e assumiu: "Sou uma NERD feia". O tempo passou e ela nunca mais tocou nesse assunto. Os elogios à inteligência continuaram.

Ao fazer quatorze anos a menina trocou de colégio. Foi para o ensino médio. Um conjunto de rostos diferentes. Não os conhecia. Ninguém sabia que ela era inteligente. Mas, feia todos veriam. Ficou com medo.

Na primeira semana de aula ainda, ela e os demais alunos novos foram cercados em todos os ambientes da escola. Descobriu que a escola tem quatro castas: professores, auxiliares, veteranos e eles, os calouros. A mais baixa das castas.

No intervalo da primeira sexta-feira letiva, os veteranos começam a selecionar os calouros. Aqueles que eles teriam o prazer de judiar. Arrumados no pátio, os calouros estavam tal qual os negros expostos no pelourinho a espera do comprador. No meio dos veteranos um rapaz se destacou pela simpatia e beleza. Ele caminhou até ela. A separou para ele dizendo: "Essa é a minha namorada. Ninguém toca." E lasca um beijo na boca da ainda menina.

Ela sentiu asco e nojo. Se sentiu exposta como carne no açougue. Foi até ele e o interpelou.
_Porque?
_ Você é a mais bonita. Tem que ser minha.

O odiou pelo seu primeiro beijo ser desse jeito.
O amou por lhe revelar que é linda.


Autor:
Simone da Silva Figueiredo
(escrito em 01/10/2011)

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