O momento que você tem plena noção da
chegada da quarta década da vida é aquele que a consciência de que a juventude
te abandonou assenta sobre sua cabeça como um quipá. Observa-se o corpo no
espelho e o reconhecimento de quem foste lhe é ainda fácil, mas não mais
imediato. Mesmo que a imprecisão lhe ocorra, e não consiga descrever com
clareza as alterações, elas se fazem presente na sua imagem e na sua
consciência. A negação, deste momento em diante, passa a ser uma mentira quando
dantes era apenas uma distração.
O corpo, que saudade do meu corpo de
duas décadas atrás. Que saudade das minhas preocupações de outrora. Que saudade
de ocupar o meu tempo apenas com aquilo que era importante para o meu futuro. Como
era bom poder ser egoísta.
Aos 40 é necessário ampliar o leque das
preocupações, e, consequentemente, reduzir as expectativas, os sonhos egoístas.
Os sonhos passaram a ser possibilidades que outra pessoa poderá vir, se tiver
vontade, possibilidade e oportunidade, realizar.
O mundo continua sendo vivo e vibrante,
mas a urgência pertence aos outros. A vontade de correr continua presente, mas
o tornozelo, joelho, nervo ciático, pé de atleta etc. não mais permitem. Cabe
apenas escolher, com muito critério, a corrida na qual você se inscreverá. Mas,
é impossível correr o circuito das quatro estações. Pois, como dantes dito, é
preciso priorizar suas escolhas, a inexistência de energia cinética,
combustível e outras provisões impedem de participar de todo o circuito. Aquele
desejo de correr o Raly Paris-Dakar terá de ficar para a próxima encarnação.
Contente-se. Mesmo porque se a escolha
recair na tristeza, isso não retardará o processo, provavelmente o acelerará.
Existem prêmios nessa fase se não permaneceres observando a porta dos fundos de
sua casa emocional. Ao sentar na varanda, caminhar pelo jardim e conhecer a
vizinhança perceberá que essas quatro décadas trouxeram amizades, experiências,
histórias, amores, vida. Encontrará nessas emoções toda a provisão necessária
para o restante da jornada, sem que tenha necessidade de previamente saber o
tempo da aventura.
(Escrito por Simone da Silva Figueiredo, 10 de março de 2013)